O discurso de campanha mudou. Ambientalistas tratados como cães raivosos em defesa da vida de todos. Lembro-me bem quando comecei minha vida nesta área. Fui taxado publicamente de ser contra o progresso, porque que era contra hidrelétricas, com barragem (continuou sendo), pois existem técnicas que não barram os rios, mas ficam mais caras e o lucro então demora entrar no bolso do empreendedor.
Aí, pouca gente fica sabendo: A maioria absoluta das barragens para gerar energia é construída com dinheiro do BNDES. Por que eles, então, não fazem sem risco de acabar com o meio ambiente e desalojar seres humanos e animais silvestres e domésticos?
Na luta contra o monstro da barragem de Pilar, que seria construída entre Ponte Nova e Guaraciaba, a união de todos fez com que o projeto fosse abortado em 1999. No caso da Vale, a coisa é bem pior do que se imagina: eles são reincidentes na negligência. Veja só que engenharia porca: construir um refeitório debaixo de uma barragem de rejeitos de minérios!
Brumadinho, cidade com 40 mil habitantes tem sua economia “barrada” pela ganância.
O poeta Itabirano, Carlos Drummond de Andrade, em seu poema José (que são todos os mortos de Brumadinho e Mariana) diz assim, em determinada estrofe: Com a chave na mão/quer abrir a porta,/não existe porta;/quer morrer no mar,/mas o mar secou;/quer ir para Minas,/Minas não há mais./José, e agora?
Nascido em Itabira, berço da Vale (vendida a preço de banana por Fernando Henrique Cardoso), Carlos Drummond lutou conta a Vale, usando seus versos em Confidências do Itabira no: …Tive ouro, tive gado, tive fazendas./ Hoje sou funcionário público./ Itabira é apenas uma fotografia na parede./ Mas como dói!
Diversas fotos de pessoas e bichos de estimação, mortos pela ganância em busca do vil metal, ficarão nas paredes de outras casas que serão construídas pela Vale, com a mesma lerdeza e displicência como as que estão sendo reconstruídas para vítimas da Barragem de Fundão em Mariana: Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (Mariana), Gesteira e Barretos (Barra Longa). Já são passados 03 (três) e meses e a terraplenagem só começou.
O discurso de Jair Bolsonaro era de que havia uma indústria de multas do IBAMA. Mas o IBAMA multou a Vele em R$250 milhões. Mas e daí? A Vale recorre e não paga. Foi multada pelo crime ambiental de Mariana e recorreu. Depois será perdoada como anistia para continuar “gerando emprego”.
Mas as vidas serão indenizadas por qual preço? E tem preço? Ah! Tem preço sim. Está determinado na Lei da Reforma Trabalhista. Ali, os “çábios” colocaram no projeto, aprovado pelos asseclas de Rodrigo Maia e Michel Temer, que a vida vale 50 salários com o valor estipulado na carteira de trabalho.
Protestar é o que me resta e eu sei fazer isso escrevendo e falando pelas ondas da Rádio Montanhesa 670 KHz, a partir de 7 horas e 40 minutos e nas páginas do Líder Notícias, toda sexta-feira, nas bancas. E por aqui no espaço democrático que a minha página no Facebook. Minha solidariedade a todos que sofrem com esta tragédia anunciada, que deverá ser caracterizada como crime ambiental como foi em Mariana.