Mimar o cachorro pode ser bom para você, mas não é para ele.
O cachorro é mesmo o melhor amigo do homem, porém algumas pessoas exageram nos mimos. Demonstrar carinho, afeto, amor, é importante e necessário para o relacionamento entre as duas espécies, agora, quando esse carinho extrapola as necessidades caninas e passa a suprir apenas as carências humanas o problema está instalado. O excesso faz mal ao cachorro, assim como faz mal a qualquer um.
Observo no meu dia-dia que a origem de muitos comportamentos “anormais” dos cães refletem a educação que estão recebendo dentro de casa. Os donos não fazem por mal, pelo contrário, a intenção deles é de fazer sempre o melhor para o seu cão, mas acabam pecando pelo excesso. Vejam esse caso que trabalhei:
Atendi um cão da raça Poodle de 2 anos, na época que morava em BH. A queixa do proprietário era que o cão não o obedecia na rua. Vendo por este lado é comum, muitos dos cães não obedecem seus donos na rua, porém quando avaliei o cãozinho percebi uma série de extravagancias vinda de seu tutor.
O cão de 2 anos, nunca tinha saído na rua antes, a não ser dentro do carro, “a rua é suja e o cão pode se contaminar”, afirmava o dono. O cão sequer pisava no chão sem ser com uso de sapatinhos, até mesmo dentro de casa.
O cão possuía milhares de roupas, coleiras, mordomias e mimos, mas não teve o principal que precisa para ser saudável e equilibrado. Não foi socializado, apresentava desvio de comportamento, estava com a saúde frágil e imunidade baixa, por não ter tido contato com o solo expunha dificuldades em se locomover, as almofadas das patas eram extremamente finas e continha muita dermatite entre os dedos.
Foi um trabalho delicado, junto com a veterinária na época, pois até engrossar as almofadas das patas e curar as dermatites levou tempo.
A agressividade do cão e desobediência foram trabalhadas de modo que o dono aprendeu a lidar com o cão de forma eficaz e natural. Passado 5 meses de reabilitação o cão ficou excelente e caminhando na rua perfeitamente. Lembro que o dono do Poodle até se emocionou por descobrir como é bom ter um cão, e não um cão fantasiado de gente.
É apenas um exemplo para ilustrar até onde pode chegar os excessos de mimos, que fique claro, estou debatendo sobre excessos, e não cuidados básicos, como veterinário, banhos, ração de boa qualidade, adestramento e até mesmo roupinha para inverno (esse último para algumas raças)…! Como diferenciar então, “excessos” de “cuidados” ? Muito simples! O excesso limita a vida do cão, não supre suas necessidades natas, afeta seu comportamento e saúde, o excesso satisfaz o dono e não o animal e os cuidados só favorecem o bichinho, promovem uma vida satisfatória e natural, assim como deve ser.
A causa principal das travessuras dos cães é a abordagem equivocada de seus donos, que os criam como se fossem gente. A forma de corrigir um cão e de se fazer entender é completamente diferente se comparado a uma criança. Mas muitos insistem em tratar o cachorro como um bebê. A partir daí o animal torna o centro das atenções, passa a não admitir a hipótese de ser contrariado, ou corrigido. Como resultado, algumas pessoas não conseguem ao menos acariciar mais os seus próprios cães.
Esse tratamento traz como possíveis consequências a ansiedade, o estresse, alterações comportamentais, fragilidade imunológica e alguns distúrbios específicos, podendo evoluir para o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Os cães mimados não sabem lidar com frustrações e com perdas, se tornam agressivos, intolerantes e com questões complicadas de serem resolvidas. Mas acreditem, mudando a postura do dono, o cão acompanha e melhora o comportamento na maioria das vezes.
O mais difícil nesse trabalho é mostrar ao ser humano que o cão precisa ser tratado como cão (nessa hora muitos donos já rebateram: “Que absurdo falar que um cão deve ser tratado como um cão”!). Mas, sem trocadilhos, é a pura verdade, um cachorro possui necessidade como cachorro e não como gente. O cão quer se esfregar na grama, quer cheirar o xixi de outro cachorro, cheirar o traseiro de outro cachorro, quer correr, pisar na terra, fuçar algum canto, enfim…quer ser cão. E cá pra nós não tem coisa melhor do que isso!!!
Portanto, deixe seu cãozinho viver como é da natureza dele.
Se você conhece ou tem um cãozinho mimado, calma, não precisa apavorar! Tanto na parte física como psicológica existem métodos específicos para corrigir os maus hábitos, do cão e do dono também, assim as duas partes, humana e canina sempre saem ganhando.