Empresários da região da Pampulha amanheceram tentando contabilizar os prejuízo da depredação ocorrida durante a manifestação dessa quarta-feira (26), principalmente na avenida Antônio Carlos. Vários comércios, dentre eles concessionárias e posto de combustível, foram saqueados e tiveram a estrutura destruída.
A reportagem de O Tempo circulou pelo local na manhã desta quinta-feira (27) e conversou com donos e funcionários de estabelecimentos. O empresário Elio Campos, de 61 anos, proprietário de uma fábrica de escadas, contou que os vândalos quebraram todas as vidraças do local, roubaram seis computadores e o dinheiro que estava no caixa, além de quebrarem os vidros do carro dele, que estava guardado no local. “A polícia é frouxa, isso não existe. O cara vem, entra na minha loja, rouba tudo e está onde? Se eu matar ele, eu estarei preso amanhã”, criticou.
Campos ainda contou que um único Boletim de Ocorrência (B.O.) foi registrado sobre todas as empresas depredadas. Para Campos, isso pode dificultar para que consiga o ressarcimento. Ele acredita, inclusive, que vai ter que entrar na justiça para não ficar no prejuízo.
Uma das lojas mais destruídas foi a Automak da Kia Motors, mesmo com seguranças particulares. A gestora de marketing e imprensa, Larissa Lopes, de 32 anos, estima que o prejuízo gire em torno de R$ 1 milhão. Sete carros foram queimados e um ficou danificado. Mesas e computadores também ficaram quebrados. De acordo com a funcionária, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram comunicados, logo que o quebra-quebra começou, mas só foram à loja depois do jogo entre Brasil e Uruguai, no Mineirão, pela Copa das Confederações.
“As pessoas perguntam pelo seguro, mas primeiro queremos cobrar do Estado a segurança. Tinham dois vigias aqui dentro, que foram feitos reféns, e quando chamei a polícia e os bombeiros a resposta foi a mesma: ‘a nossa prioridade é o Mineirão'”, relatou. Dois adolescentes que ajudaram a incendiar a loja foram apreendidos. Com eles, a PM encontrou e apreendeu equipamentos com os quais os próprios filmavam o vandalismo.
As ruas estão sujas de tintas roubadas da Telha Norte, que também ficou com a fachada queimada. Há rastros de fogo por todos os lados.
Reposta O major Gilmar Luciano Santos, chefe da assessoria da Polícia Militar (PM), informou que os policiais agiram com cautela e priorizaram as vidas em detrimento ao patrimônio particular. “Corria-se o risco de a PM fazer uma ação rápida (contra os vândalos) e deixar a população no fogo cruzado. Entre o patrimônio e a vida, optamos pela vida. Isso é o que manda a Constituição Federal”, explicou.
Santos complementou dizendo que mesmo não agindo imediatamente contra os arruaceiros, a polícia monitorou toda a ação deles. “Esperamos o melhor momento para prender os criminosos, apagar o fogo e restaurar a ordem”, garantiu. Segundo o major, os criminosos sabiam muito bem como fazer para dificultar o trabalho da polícia. “Os bandidos foram conscientes, eles agiram bem. Havia uma faixa de 300 metros de densidade de manifestantes. Mas tudo foi filmado e mais de 40 já foram presos”, afirmou.
Em nota, a Polícia Militar informou que os cerca de 5.000 militares destacados para atuar durante as manifestações e o jogo Brasil e Uruguai atuaram, prioritariamente, para garantir a segurança das milhares de pessoas que estão se manifestando de forma pacífica e também para assegurar o acesso e a saída dos mais de 60 mil torcedores e profissionais presentes no Mineirão.
Em relação ao entorno do Mineirão, o entendimento previa a instalação uma barreira física, com grades, na avenida Abraão Caram, sem a presença de policiais militares, o que foi cumprido pelo governo. Além disto, no local originalmente previsto como ponto de bloqueio das manifestações, os policiais seguiram a nova orientação e mantiveram distância considerável dos manifestantes. Apesar disso, ficou claro pelas imagens veiculadas pelas emissoras de televisão, que grupos minoritários e violentos de vândalos, vários deles encapuzados, agiram no sentido de romper esta barreira, arremessando pedras, paus e bombas caseiras em direção aos policiais militares, que só reagiram para se defender dos ataques.
O Tempo