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FRAGMENTOS

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Olho pela vidraça

A raça que me escorraça

Que abomina a valsa

Que dança a salsa

 

Fragmentos dos meus momentos

Dos meus lamentos

Fragmentos das minhas desilusões

Das minhas frustrações

 

E No cérebro de quem passa

Na dança sem graça

Bem perto da minha praça

Na dança da serpente

Torturando minha mente

Há quem pense que não fracassa

 

Por entre montanhas

Cantando minhas façanhas

Sigo em frente

 

Existe o choro da minha aldeia

Da minha vida inteira

No passar dos ventos

O grito dos tormentos

No atravessar dos rios

Todos os meus calafrios

 

Na praça, o banco, o jardim

Fincado no chão, o caramanchão

Na terra que é minha paixão

É saudade, não é frustração

 

E por traz de uma treliça

No salão das trepadeiras

O Guardião das rezadeiras

Ouve o cochicho da mortiça

Mil confissões de bobiça

O choro inocente da imundiça

 

Vidros coloniais

Lágrimas sacerdotais

Palavras em espirais

Com verdades parciais

Mentiras que não acabam mais

Muita gente não volta mais

 

 

No pente que me penteia

O irreverente que me odeia

No olhar que me incendeia

Ou no brilho da minha candeia

 

No falso olhar do pranteado

Na humilhação do penteado

No gesto do falso amigo

Onde reside o perigo

Na grade do aprisionado

 

Fragmentos dos meus parcos argumentos

Dos meus falsos fundamentos

Dos meus arrependimentos

Ou dos meus pressentimentos

 

Inventaram a força do amor

Contrapondo-se ao ódio

E no ódio a força do desprezo

A essência do menosprezo

Não se sabe o vencedor

 

E no desprezo, a guerra que me encerra.

E no pós-guerra, a terra que me enterra

 

E na saudade, lembranças da minha cidade

E na ausência, as dores da coerência.

E na separação, a dor da desilusão

 

No grito de independência

A nobreza da falência

No grito de tristeza

A certeza da pobreza

 

E na caridade, a certeza da falsidade

A conveniência da generosidade

 

No jardim, o banco da praça

Pra quem perde o ar da graça

E não olha por quem passa

Com o filho que faz pirraça

Ou com o pai que toma cachaça

Ergue a taça da desgraça

E disfarça toda farsa

 

Na praça, o banco da minha dor.

Que um dia, sofri por amor

Na saúde o banco de sangue

Na juventude o banco da escola

Na escola a professora gabola

Que me flagrou dando cola

Mas não soube me colocar pra fora.

 

Na demagogia o banco do povo

Do povo que faz a orgia

Submetendo-se à asfixia

Super feliz não atrofia

Esnobando na baixaria

 

 

No desespero, o banco do dinheiro

Do viúvo ou velho solteiro

Morto como frango no viveiro

Na porta do pardieiro

Pelo porteiro do puteiro

 

Na malandragem o banco do bar

Daquele que não soube amar

E lá se pôs a chorar

E até o sorriso tem que pagar

 

Ta na hora de ir embora

Da Rua Aurora

Ta na hora de dar no pé

Do recanto da Zezé

 

E na mensagem do mal

Da turma do berimbau

O anexo sem nexo

Do inútil perplexo

Do animal orbital

Da fatura não sabe o total

 

Na esquina da minha rua

Que você pensou que fosse sua

Nas linhas do meu canto

O veneno do pretexto

No espaço do meu texto

Fiquei com minha  auto-censura

Vai mas não volta ou vai e volta

Tão boa, enquanto perdura

Defini minha clausura

 

Na conta corrente do amor

Fiquei com saldo credor

Na conta corrente da vida

Uma visão escarnecida

 

Foi no dia que ela olhou pra mim

Atravessou a rua, seminua

E com um olhar, me disse sim.

E com outro olhar me disse, sua