Nova York, EUA. Por anos, agentes de saúde disseram aos pais para não compartilhar utensílios com seus bebês ou limpar suas chupetas colocando-as em suas próprias bocas, com o argumento de que a prática espalha germes prejudiciais entre pais e criança. Mas uma nova pesquisa pode virar esse argumento de cabeça para baixo.
Em um novo estudo, publicado recentemente no periódico “Pediatrics”, cientistas relatam que crianças cujos pais sugaram suas chupetas para limpá-las desenvolveram menos alergias que os filhos de quem costumava enxaguar ou ferver o acessório. Os primeiros também tiveram taxas menores de eczemas, menos sinais de asma e quantidades menores de um tipo de glóbulos brancos que aumentam em resposta a alergias e outros distúrbios.
As descobertas somam-se ao crescente corpo de evidências de que um certo grau de exposição a germes logo no início da vida beneficia a criança e que a privação aos micróbios pode sair pela culatra, impedindo que o sistema imunológico desenvolva uma tolerância a ameaças triviais.
Hipótese. O estudo, conduzido na Suécia, não conseguiu provar que as chupetas limpas com a saliva dos pais foram a causa direta da redução das alergias. A prática pode ser um efeito de pais que são mais relaxados com sujeiras e bactérias, segundo William Schaffner, especialista em doenças contagiosas da Universidade Vanderbilt, que não estava envolvido no estudo. “Eu me pergunto se os pais que limparam as chupetas oralmente aceitavam mais o ditado de que você precisa de uma certa dose de sujeira. Talvez eles só tivessem um ambiente menos ‘desinfetado’ em casa”, pondera o médico.
Estudos mostram que o mundo microbial em que uma criança é criada tem um papel no desenvolvimento de alergias, aparentemente, desde o nascimento. Bebês nascidos de parto normal acumulam bactérias marcadamente diferentes em sua pele e nos intestinos, se comparados àqueles nascidos de cesarianas. Isso tem sido relacionado a um menor risco de febre alta, asma e alergias alimentares.
Mas ainda não foi estudado se o fato de a mãe colocar a chupeta do filho na boca ou o alimentar com a própria colher proporciona à criança o mesmo tipo de proteção, afirma Bill Hesselmar, principal autor do novo trabalho.
Traduzido por Raquel Sodré