Recentemente tive a oportunidade de dialogar com integrantes da Semam sobre arborização urbana, com a finalidade de discutir ações que possam desencadear um empoderamento florestal no entorno da cidade, hoje totalmente destruído, sem árvores. Estes lugares periféricos foram desvegetados, dando espaço para construção de moradias, loteamentos e invasões.
Surpreendeu-me a proposta da Semam em relação à arborização urbana em espaços antes ocupados por lixões clandestinos. O trabalho é exemplar e merece nosso reconhecimento a uma nova política para um assunto tão pouco celebrado em nossa terra. Meio ambiente é considerado palavrão quando nos atemos ao poder público. Por isto, esta medida modifica este comportamento, pelo menos em Ponte Nova.
Entretanto, a proposta de eliminar espécies exóticas existentes em Ponte Nova no perímetro urbano não me parece correta e muito menos tem respaldo técnico. As espécies plantadas em nossas vias já fazem parte da paisagem urbana. Do ponto de vista legal não existe nada que impeça que elas possam conviver com as outras do Bioma Mata Atlântica. O Código Florestal prevê, inclusive, que o reflorestamento em Reserva Legal possa ser consorciado com exóticas, como eucalipto e mogno africano, para citar apenas estas duas.
Ora, se no meio rural pode-se reflorestar com exóticas, o que existe de errado com as nossas exóticas urbanas? Citamos apenas algumas: fícus benjamina, calistemo/escova-de-garrafa), amendoeira-da-praia/castanheira, flamboyant, espatódea/mijo-de-gato), casuarina e jacarandá-mimoso/jacarandá azul) e palmeira-imperial. O argumento de que elas oferecem riscos e possam atrair animais exóticos, não procede. Em 45 anos de Ponte Nova nunca vi um animal exótico em Ponte Nova. Pode ser animal (pássaro) que imigra e fica por aqui, mas pertence ao ecossistema da Mata Atlântica.
Outro argumento que me incomodou é sobre cortar árvores que quebram e levantam calçadas. Se forem cortadas todas elas, perderemos mais de 30% das nossas árvores adultas. Não precisa cortá-las é só abrir uma área de infiltração, cortar as raízes e impor uma barreira de concreto. Nestes casos, as raízes projetarão seu crescimento de forma pivotante, Fizemos isso, em 2008 e salvamos mais de 100 árvores em Ponte Nova e os passeios foram recuperados. Vejam alguns exemplos na Rua José Vieira Martins e Avenida Dr. José Mariano, em Palmeiras. A Secretária de Meio Ambiente era a Bióloga, Sandra Martins Neves, que atendeu ao meu apelo.
Embora possa parecer radical, mas este tipo de atitude de me cheira a uma (*) limpeza étnica florestal, introduzindo uma nova cultura ambientalista no vale do rio Piranga, principalmente em nossa terra. Espero que o Engenheiro Florestal Nikolas Pereira, converse mais, encontre outro caminho e mantenha nossa arborização já existente e promova um Programa de Arborização Urbana para substituir as centenas de espécies que foram cortadas nos últimos anos, principalmente nas calçadas.
(*) A limpeza étnica é a remoção ou eliminação de determinados grupos étnicos numa região, com o objetivo de torná-la etnicamente homogênea.
(*) Ricardo Motta é jornalista, escritor e poeta e ambientalista desde 1977.