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Poço das Antas protege Mata Atlântica

Há 500 anos, havia uma imensa floresta tropical que cobria toda a costa leste do continente sul-americano, a Mata Atântica. Com a colonização, a mata de baixada, aquela mais próxima à região litorânea antes da cadeia serrana, foi desaparecendo do mapa. Animais da floresta estavam à beira da extinção. Por uma medida de conservação da fauna nativa ameaçada e por pressão dos ambientalistas, o governo brasileiro decretou em 1974 uma área de 5 mil hectares no estado do Rio de Janeiro como a primeira reserva biológica de proteção integral do país. Nascia o Poço das Antas.

Localizado a 130km da capital, no município de Silva Jardim, a área protege o segundo bioma florestal mais devastado do mundo. Inserida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João, a reserva está localizada entre o rios São João, Aldeia Velha e a rodovia BR-101. A unidade de conservação protege o que sobrou da Mata Atlântica costeira, com mais de 365 espécies de plantas. “Essa vegetação ombrófila, que gosta de água, é a que mais sofreu com a expansão humana ao lado do manguezal”, conta o engenheiro florestal Gustavo Luna Peixoto, que é chefe da unidade e analista ambiental.

Mico-leão-dourado recupera sua população (Foto: Divulgação/ Wigold Schaffer)Mico-leão-dourado recupera sua população
(Foto: Divulgação/ Wigold Schaffer)

Fauna

O mico-leão-dourado, o macaco bugio, a preguiça-de-coleira e a onça jaguatirica são alguns dos animais com risco de extinção que vivem na reserva biológica. Populações de animais que estavam em vias de desaparecer na natureza conseguiram se recuperar na área. Foi o caso do mico-leão-dourado, que agora comemora uma população de 1700 indivíduos na mata.  “A situação estava alarmante. O mico saiu da lista de espécies criticamente ameaçada de extinção”, explica Gustavo.

Com a falta de corredores florestais ligando a reserva à outra área protegida ou parque, animais de grande porte correm outros riscos. “Isoladas aqui dentro, as onças tem dificuldade para encontrar outras onças para reprodução, o que gera um empobrecimento genético e fragilização da espécie”, explica Gustavo, fazendo referência à importância da diversidade biológica.  A preguiça-de-coleira dá trabalho quando tenta cruzar a BR-101.  A jaguatirica, por sua vez, não tem problemas de velocidade quando resolve dar uma saidinha, mas também não é uma visitante desejada nas cidades do entorno.

A Preguiça também está ameaçada de extinção (Foto: Divulgação/ Rafael Puglia Neto)A Preguiça está ameaçada de
extinção (Foto: Divulgação/ Rafael Puglia Neto)

O Poço das Antas ainda protege 275 espécies de aves, sendo que 18 também estão ameaçadas por serem endêmicas como o mico leão –espécies endêmicas são aqueles que só se encontram em um bioma. Outra espécie que só vive na vegetação pantanosa de baixada litorânea encontrada no estado do Rio de Janeiro é a borboleta de praia. Desde 1983, essa borboleta entrou como o primeiro inseto brasileiro a aparecer na lista de insetos ameaçados de extinção.

A anta, que deu nome a uma das propriedades originárias da reserva, já sumiu da região. “Quando você fala com moradores de 90 anos, eles dizem ter visto antas por aqui”, conta. O veado campeiro é outro local que também não está mais por lá.

Pesquisa e Educação Ambiental
Diferente de os parques nacionais, uma reserva biológica não é voltada para turismo e lazer, seu objetivo é preservação, educação e pesquisa. “A missão da unidade é proteger o bioma para o futuro e para pesquisa. Só no ano passado foram feitas 46 pesquisas acadêmicas”, conta Gustavo que faz monitoramento dessas pesquisas. “Descobriram  duas espécies de arbustos que não eram classificados”, conta. Até hoje, ainda não foi feito qualquer estudo fitoquímico com as quase 400 plantas da reserva ambiental”, conta.

Escolas, universidades, e grupos como observadores de aves, podem agendar uma visita. “Recebemos estudantes e pesquisadores, fazemos palestras de Educação Ambiental sobre a floresta”, conta Gustavo. Perto da recepção da reserva, há uma trilha interpretativa de 1km onde grupos de escola podem ter um primeiro contato com a floresta.

Queimadas no Poço das Antas (Foto: Divulgação/ Gustavo Luna Peixoto)Queimadas no Poço das Antas (
Foto: Divulgação/ Gustavo Luna Peixoto)

Equipe limitada
Com uma equipe bastante limitada, a reserva conta com outro analista ambiental além de Gustavo, que também cumpre o papel de chefe da reserva. Dois fiscais fazem vigilância para combater a caça e o desmatamento em toda a área e no anel de amortecimento ao redor da unidade. Há ainda um funcionário administrativo. “Falta fiscal, pois é um trabalho contínuo e precisa de escala. Se houvesse mais recursos, poderíamos fazer um sistema de segurança para detectar queimadas e correr atrás de pesquisas para responder questões de dentro da unidade”, comenta.

Mesmo proibida por lei, a caça ainda ocorre na região. “Normalmente, o caçador é encontrado em grupos dentro da reserva. Eles caçam por lazer no fim de semana”, conta Gustavo. “Os animais caçados são capivaras, pacas e tatus. Quando pego, o caçador é multado tanto pela caça como pelo porte irregular de arma. Ele recebe uma multa de R$ 500 por animal morto, se aquele não for um animal ameaçado de extinção”.

Outro desafio são as queimadas. “Quando acontece desmatamento e o fogo atinge a reserva, um analista vai ao local fazer um laudo técnico para identificar o tipo de vegetação que foi atingida. Se a vegetação for maior, mais preservada, a multa é mais alta”, explica. Para apagar focos de incêndio que são mais comuns nessa época do ano, a reserva ainda conta com 14 brigadistas terceirizados.

Na época sem chuvas, as queimadas se espalham com mais velocidade para o parque (Foto: Divulgação/ Rafael Puglia Neto)
As queimadas se espalham com velocidade nas épocas sem chuva (Foto: Divulgação/ Rafael Puglia Neto)
 
Globo.com