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“O OUTDOOR DE RICARDO MOTTA”: ESCREVEU UM DIA LAENE TEIXEIRA MUCCI

Era agosto de 1991, exatamente em 21 de agosto, quando uma “procissão de carros” subiu a Avenida Francisco Vieira Martins. Algo estranho, intenso e “inacreditável”: há 30 anos alguém teve a coragem de falar publicamente, em outdoor, que estava apaixonado por uma mulher e a queria de volta. Esse maluco era eu.

 

No dia 22 de dezembro, quarta-feira, resolvi mudar de rumo e atravessei o Pontilhão de Ferro para alcançar a river gauche do Piranga, na Vila Centenário. Foi por ali que morei quando cheguei em Ponte Nova, na década de 1970. Vim em um trem de passageiros da Rede Ferroviária federal, que substituiu a Leopoldina Railway. Já era uma locomotiva movida a diesel. Desci na Estação de Palmeiras, onde hoje tem um mostrengo de 04 (quatro) andares, passeio de cimento e sem uma árvore sequer.

 

Cheguei ao Bar do Cristóvão às 18 horas. Menos de uma hora depois, em seu imponente triciclo, que carrega uma boneca achada no lixo, mas recondicionada, chegou “Edinho Tiranos”. E por ali fomos ficando, sempre na base da cerveja e de bons papos. Relembramos grandes momentos, pois conheço o camarada que mora na Independência, a rua que fica atrás do Asilo Municipal, há décadas.

 

Falamos de Antônio Inácio Boneca, Afonso Mayrink, Zezito Bocão, José Carlos Daniel e de Antônio Pedro. E sobrou para lembrar que Edinho Tiranos era trilheiro e numa dessas aventuras quebrou o fêmur. Meses imobilizado, operações, sessões de fisioterapia. Ele gosta de motos, mas fica mesmo com mais prazer em cima do triciclo. “A aventura da motocicleta e a comodidade do carro e ainda sobra espaço para levar a companheira Maria do Carmo, sua esposa”, disse Edinho.

 

E não é que de repente, ele me surpreende e relembra o outdoor: “Rapaz, você colocou um outdoor para celebrar sua paixão pela Gina Costa. Isto tem 30 anos. Lembro-me bem, Havia uma fila enorme de carros no Pau d’Alho para ver sua façanha”.

 

O mais surpreendente daquele ano (1991) é que iniciamos um movimento cultural, com direito a instalação artística de Ricardo Rezende, pintura de Ayrton Pyrtz em um outdoor em branco, perto do que eu colocaria dias depois. Ali, onde hoje tem um supermercado. No varal de poesias, as pessoas que participaram do “Arte Cidade” puderam ler pela primeira vez o meu poema “Barbara”, que eu escrevi em uma noite de insônia para minha filha, que ainda estava na barriga de Gina Costa.

 

Ronaldo Fernandes, parça de “loucuras”, aventuras e meio ambiente, fotografou tudo. Organizado como é, deve ter as fotos daquele movimento, que resgatava a cultura “perdida” de Ponte Nova. Arte Cidade teve cachaça, cigarrinho do capeta, declamação, pintura, namoros, azaração, debate, cerveja e beijos. Tudo aconteceu no Mosteiro, que era o point da época.

 

Edinho Tiranos, que é membro do grupo de motociclistas “Tiranos do Asfalto”,me fez também lembrar que na primeira semana de setembro de 1991 Laene Teixeira Mucci escreveu a crônica “O outdoor de Ricardo Motta” que depois fez parte do seu livro “Terra”. E, depois, seguimos falando de cultura, pescaria em Rio Casca, desculpa para comer frango caipira com quiabo e angu de moinho d’água.

 

Quem surgiu durante nossa conversa foi Fatinha Bergamini, minha segunda paixão adolescente (a primeira se chamava Divina), com direito a cair em buraco sujo e ficar gritando que só sairia de lá se Dona Iracema (mãe) chamasse a Fatinha. Afonso Mayrink, também conhecido como “Dom Alfonso de Las Coxas, o Caçador de Dinossauros” espalhou que eu gritava: “Não me tirem daqui, pois eu sou um rato!” Esta passagem aconteceu em 1979, em março, depois daquela terrível enchente que afetou Ponte Nova e a Vila Centenário (02/02/1979).

 

Bons momentos. Foi a primeira vez que eu e Edinho nos encontramos para tomar umas cervejas e conversar. Antes, eu me encontrei com ele em fevereiro de 2020, quando tomamos uma cerveja no Bar do Orlando, que fica na boca do Pontilhão de Ferro. Depois veio a pandemia e eu fiquei cerca de 08 (oito) meses sem atravessar o Pontilhão de Ferro.

 

O mundo está voltando, mas agora estamos vivendo o novo normal. Adaptando-nos, mas sem esquecer aquilo que ajudou a construir nossa história.